terça-feira, dezembro 06, 2011

Acreditar em Luanda



É preciso acreditar



A minha paixão por Luanda começou em criança, na Vila Alice, um bairro que combinava burgueses com ferroviários, funcionários públicos, comerciantes, famílias tradicionais, passantes, revolucionários, artistas, mestres, e até militares que enlouqueciam nos campos de batalha. O bairro, diziam, tinha as meninas mais bonitas de Luanda. E os desportistas mais esforçados, que mais tarde brilharam no basquetebol ao serviço do clube do bairro vizinho: Vila Clotilde.



Dividi a infância com as ruas do Bairro Operário, onde a minha avó me ensinou a amar a terra e a viver com os poros encostados ao chão de areia e onde fugi da primeira “berrida” da Polícia Militar. Foi ali que conheci outra Luanda, mais autêntica, menos vaidosa e, apesar de tudo, mais livre. A cidade para além da fronteira do asfalto, mas com as ruas poeirentas abertas à cultura e cada casa encerrando mistérios de combinas nacionalistas ou acolhendo amores fatais.



E Luanda sabe a mangas madurinhas, a cajus sumarentos e a figos da índia derrubados à fisga. Luanda sabe a maresia e aos almoços de sábado debaixo da mandioqueira de um quintalão do Bairro Operário, do Marçal, do Sambizanga, do Catambor. Luanda tem tantos gostos e tantos encantos que precisava de mil páginas para descrevê-los. E de mais espaço ainda para lhe fazer a declaração de amor que merece.



Esta é a cidade que sobreviveu ao rolar dos séculos e continua viva e jovem como no primeiro dia em que foi posta a primeira pedra numa casa qualquer na base do monte de S. Miguel, à vista da Ilha do Cabo e aos pés da Baía. É preciso preservar a brisa fresca que começa a soprar ao fim da tarde e envolve a cidade num manto de luar. Temos de guardar as pedras que marcam os séculos e os caminhos que os luandenses de outras eras percorreram, levando a cidade até às portas do paraíso. Temos de curar as feridas no seu corpo, provocadas pela pressão humana. É uma missão difícil mas que vai encher de orgulho todos os que a levarem a cabo.



Jose' Ribeiro

[aqui]

1 comentário:

master chief disse...

fendi meus dentes na cana do açucar:tao doce estava a cana
como doce era luanda;
fendi meus dentes na manga; tao doce estava a manga como doce eram as praias de luanda;fendi os meus dentes no amendoim,na samba no caju;tao doce era o aroma da noite em luanda


albert caluanda